10/07/2016

PALMAS À PALMEIRA


PALMAS À PALMEIRA 

a palmeira estremece
palmas para ela
que ela merece

Eis o poema de rimas pobres e versos simples de Paulo Leminski, que num primeiro momento soa risível em seu jogo de palavras pueril, mas naquilo que reverbera há mais que o risível, há que se ouvir uma gargalhada. Ante ao símbolo desta terra brasileira onde canta o sabiá, esta imagem tropical já tão puída da palmeira, as palmas fazem repetir uma veneração (ufanista?), fazem repetir uma admiração, fazem repetir uma “miração”, uma mirada, um olhar que estremece, estremece com ela, ou antes que nos faz estremecer. Estremece diante do que ela faz reverberar... “Palmas para ela que ela merece”, dizia Chacrinha (outro clichê dos trópicos com sua suntuosidade carnavalesca em trajes e gestos), “palmas que ela merece” e repete-se outro bordão; e de bordão em bordão tece-se algo que escapa, algo que nos faz rir não da simplicidade das palavras – o inverso, a simplicidade das palavras faz-nos rir das frases feitas que carregam com ela sentimentos pré-fabricados, reações já sabidas, relações esperadas. A simplicidade do jogo (palmas à palmeira, que de palmas já é cheia) é o que estremece e faz verter em nós gargalhadas: de que importa à palmeira isto que o humano chama de “palmas”? No fundo de que importa a ela essa louvação? Ou o destaque em hinos, bandeiras, poemas? Diante de toda simbologia, sentimentalismo e imagética da brasilidade, a palmeira dá de ombros e é, apenas é, é aquilo que é: vida – estremecendo, vibrando; e estremece, estremece-nos, vibramos. Haveria algo de ser mais tropical, mais tropicalista que esta vitalidade da palmeira?
     Então, palmas para ela que ela merece!

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